Quarteirão Jesuíta e Estâncias de Córdoba – Argentina

Quarteirão Jesuíta e Estâncias de Córdoba

Córdoba ou Córdova é capital da Província de Córdoba e fica a aproximadamente 700 km da capital Argentina, Buenos Aires, sendo a segunda cidade mais populosa do país. Seu nome é em homenagem à cidade de Córdoba, na Espanha, dado por Jerónimo Luis de Cabrera, que fundou a cidade em 1573. A cidade foi uma das primeiras capitais coloniais espanholas da região que hoje é a Argentina.

Eleito como Patrimônio Cultural da Humanidade no ano de 2.000, o bloco Jesuíta em Córdoba contém os principais edifícios do sistema jesuíta: a igreja, universidade e a residência da Companhia de Jesus, além do colégio. Juntamente com cinco estâncias, ou propriedades agrícolas (fazendas), eles contêm edifícios religiosos e seculares, que ilustram o único experimento religioso, social e econômico realizado no mundo por um período de mais de 150 anos nos séculos XVII e XVIII.

Os primeiros jesuítas chegaram à região por volta de 1589, e se estabeleceram oficialmente em 1599, fazendo de Córdoba o ponto central das tarefas de evangelização da Companhia de Jesus. Neste mesmo ano, o Superior da Ordem, Padre Juan Romero, aceitou a doação da propriedade da qual faz parte o atual Quarteirão Jesuíta. O quarteirão ou bloco está localizado no meio do centro da cidade.

A partir de 1608, começaram as obras que dariam forma ao atual bloco jesuíta. Foram adicionando ao longo do tempo os edifícios do Colégio Máximo (1610), da Universidade (1622), Colégio Convictorio de Nossa Senhora Monserrat (fundado em 1687, porém sua atual localização mudou em 1782, após a expulsão da Companhia) e o Noviciado (1710). A Igreja e a Capela Doméstica foram construídas entre 1644 e 1671. Após a expulsão dos jesuítas em 1767, o bloco foi designado aos franciscanos, depois ao clero regular, e depois de 1820 tornou-se propriedade do governo da província.

A Universidade Nacional de Córdoba é a universidade mais antiga da Argentina, a quarta mais antiga da América do Sul e desde o início do século XX, tem sido a segunda maior universidade do país, ficando atrás apenas da Universidade de Buenos Aires, em termos de alunos, professores e programas acadêmicos. Em 1610, os jesuítas fundaram o Collegium Maximum, uma instituição do mais alto calibre intelectual da época, este foi o percursor da universidade. Somente em 1621, quando o papa Gregório XV outorgou ao colégio a autoridade para conferir graus, a instituição passou a ser reconhecida como universidade, marcando assim o início da história do ensino superior na Argentina.

Os jesuítas permaneceram no controle da universidade até 1767, quando foram expulsos por ordem do rei Carlos III. A liderança então passou para a ordem franciscana. Nos primeiros 150 anos após sua fundação, a universidade manteve um foco exclusivo em filosofia e teologia. Somente é possível conhecer o pátio da universidade, sendo seu interior restrito apenas à alunos e funcionários.

A Paróquia de San Salvador e Santo Domingo de Silos é popularmente conhecida como a igreja da Companhia (Iglesias de la Compañia) pois é a antiga sede dos jesuítas na cidade.

As obras tiveram início em 1555 e foram concluídas em 1567 e o edifício retrata bem a sobriedade dos jesuítas. A planta do templo é de cruz latina, com cúpula e lanterna de estilo renascentista.

As estâncias de apoio do bloco composto por Alta Garcia, Santa Catalina, Jesús Maria, La Candelaria e Caroya cada uma incluía uma igreja ou capela, residência de padres, ranchos para escravos e povos indígenas, áreas de trabalho (acampamentos, moinhos, etc.) sistemas hidráulicos, casas de fazenda e grandes extensões de terra para a criação de gado.

  • Estância de Alta Garcia (38 km ao sul de Córdoba pela RP 5) está localizada no centro da cidade do mesmo nome e a igreja Nuestra Señora de la Merced é a sede da paróquia local. A fazenda, criada em 1643, tinha como principal atividade a criação de gado, agricultura e comércio de mulas.
  • Estância Santa Catalina (localizada a 70 km ao norte da cidade e a 20 km de Jesús Maria), fundada em 1622 foi a maior de todas, onde há uma linda igreja barroca, bem como os pátios internos muito bem conservados. A fazenda, que foi o principal centro de produção agropecuária dos jesuítas, passou às mãos de uma família local quando a ordem foi expulsa da América e, embora possa ser visitada, é ainda uma propriedade particular.
  • Estância Jesús María (a 50 km ao norte de Córdoba pela RN 9) foi fundada em 1618 e era lá que os jesuítas produziam vinho, a atividade de maior importância para sua missão catequizadora, já que sem vinho, não há missa. Foi desta estância que surgiu o primeiro vinho elaborado no Novo Mundo, o Lagrimila, bebida licorosa fabricada até os dias de hoje. Das construções originais, ainda podem ser visitadas a igreja, a residência dos padres e a bodega. Ali funciona o Museo Jusuítico Nacional, que exibe vasta coleção de objetos da era colonial, tanto de cunho religioso quanto móveis e artefatos empregados na produção do vinho.
  • Estância Caroya (44 km ao norte de Córdoba pela RN9) é a mais antiga das construções rurais dos jesuítas na região, de 1616. Um amplo pátio interno e a capela são as principais partes da edificação, que sofreu diversas modificações ao longo dos séculos. Em 1814, funcionou ali uma fábrica de armas brancas. Nas proximidades formou-se, no final do século XIX, uma colônia de imigrantes do norte da Itália, cujos descendentes produzem até hoje salames e queijos de ótima qualidade.

O Quarteirão Jesuíta e as Estâncias de Córdoba são um exemplo excepcional de um vasto sistema religioso, político, econômico, legal e cultural. É também uma excelente ilustração da fusão das culturas europeia e indígena, com as contribuições adicionais dos trabalhadores escravos africanos. O conjunto é um exemplo particular de organização territorial, um complemento econômico entre assentamentos urbanos e rurais que permitiu à Companhia de Jesus perseguir seus objetivos educacionais e missionários.

As realizações notáveis deste conjunto incluem o desenvolvimento de tecnologias baseadas em recursos locais, tanto materiais como humanos, e o uso do respectivo conhecimento dos participantes – a Ordem religiosa e os trabalhadores escravos indígenas e africanos – o que resultou em uma mistura de expressões arquitetônicas, tecnológicas e artísticas, refletindo influências maneiristas e barrocas adaptadas à localidade.