Santuário Bom Jesus de Matosinhos (MG)

Santuário do Bom Jesus de Matosinhos – Congonhas (MG)

Nosso último destino em Minas Gerais fica em Congonhas, uma cidade com pouco mais de 55 mil habitantes e lar do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, motivo pelo qual viemos visitar essa pequena cidade. Patrimônio Histórico da Unesco desde 1985, o Santuário conta com uma história curiosa.

A devoção à Bom Jesus de Matosinho teve início em Portugal, na cidade de Matosinho, no ano 124. Diz a lenda que nesta cidade foi encontrada uma imagem de Jesus crucificado, e que esta teria sido entalhada por Nicodemos que, segundo a Bíblia, estava presente na crucificação de Jesus Cristo e teria jogado a imagem ao mar para evitar perseguições religiosas. Esta imagem foi colocada em um mosteiro local e em 1559 construiu-se uma igreja em Matosinho especialmente para esta imagem. A dedicação a Bom Jesus de Matosinhos chegou ao Brasil através dos colonizadores portugueses e teve rápida disseminação no país, tanto que 23 cidades foram fundadas sob a invocação do Bom Jesus. No período colonial, quando a igreja ficou pronta, ela se tornou o maior centro de peregrinação religiosa da época.

A história da igreja remete ao ano de 1756, quando um minerador português, chamado Feliciano Mendes, decidido voltar à Portugal devido ao seu estado grave de saúde, sua intenção era se juntar a alguma ordem religiosa onde pudesse dedicar ao salvamento de sua alma. Ele fez uma promessa à Bom Jesus de Matosinho, para caso se curasse, ele construiria um templo semelhante ao já existente no norte de Portugal. “Lembrou-se ou Deus o inspirou, de levantar uma crus no alto do Morro Maranhão, na beira da estrada do Redondo, e pôs também ali uma Imagem do Senhor para que os passageiros a venerassem e se lembrassem das almas do purgatório e rezassem ou cantassem o terço de Nossa Senhora, tendo elle também em missa ter alguma parte nas orações que alguma alma mais devota que a sua ali rezasse, com este intuitos collocou uma crus com a Imagem do Senhor no referido logar, que me parece ser aqui onde se acha construída a capella do Senhor Bom Jeusus” (Esboço histórico sobre o Santuário de Bom Jesus de Mattosinhos de Congonhas do Campo, escrito em 1895 e preservados nos arquivos da Arquidiocese de Mariana).

Em 8 de abrir de 1757, Feliciano levantou a cruz, fundando um pequeno oratório no alto do morro, onde passou a viver como eremita, doando toda sua fortuna em ouro para a construção de uma igreja. Ninguém sabe ao certo de quem foi o projeto da igreja, porém acredita-se que o próprio Feliciano possa ter realizado sua concepção. Ainda em 1757, as obras da capela-mor tiveram início e em três anos já tinha condições de realizar cultos.

Em 1765, Feliciano Mendes faleceu porem a obra teve continuidade através dos ermitãos que o sucederam. Uma imagem de Bom Jesus foi encomendada de Portugal e colocada no altar-mor, o que aumentou o prestigio dos cultos realizados na igreja. A obra progrediu ao longo dos anos e em 1773 sua estrutura externa estava pronta, enquanto isso, a sacristia, o trono do Jesus crucificado e o altar da Casa dos Milagres, onde se guardam os ex-votos eram finalizados (ex-votos são os presentes dados pelos fiéis ao seu santo de devoção em consagração, renovaça). Em 1794 a decoração externa foi finalizada por Vicente Freire de Andrada.

A igreja segue o estilo barroco colonial e possui uma escadaria que foi construída entre 1777 e 1790 e mais tarde recebeu as estátuas dos profetas feitas por Aleijadinho, formando uma estrutura que até então não existia na história da arquitetura colonial brasileira. “Esse pátio monumental, com seus largos parapeitos e elaborada escadaria, se apresenta como um trabalho cheio de dignidade e boas proporções. O efeito básico é simples, mas por trás dessa aparente simplicidade há uma complexa harmonia no contraste das linhas côncavas e convexas, que dão variedade e movimento ao conjunto, impedindo que caia na monotonia e no peso excessivo. Assim, a arquitetura do adro constitui, por si só, uma realização de qualidade, mas quando considerada juntamente com as estátuas dos profetas, cumprindo sua função, temos um desses magníficos e dramáticos conjuntos arquitetônicos de elementos independentes em que se sobrassem os artistas do estilo”.

Como um todo, as esculturas assumem um papel arquitetônico e o efeito global é autenticamente barroco e neste trabalho esplêndido podemos observar toda a experiência de Aleijadinho no desenho tridimensional e na decoração de fachadas. O interior do Santuário tem decoração em estilo Rococó e é de uma beleza imensurável. O ouro está presente em vários elementos decorativos, como nos altares, nas estátuas e nos forros das paredes. Os quatro relicários são obras da oficina de Aleijadinho e pintados pelo Mestre Ataíde. O teto da igreja é outro elemento precioso. Pintado entre os anos de 1773 e 1774 por Bernardo Pires da Silva, ele representa o momento do sepultamento de Jesus Cristo. Os detalhes decorativos não acabam por ai, ao longo da nave podemos observar dois dragões e animais fantásticos entalhados na base dos púlpitos. Os painéis narram a história da redenção do homem desde o pecado original até a glorificação de Jesus no céu ao lado de Deus Pai (cena no teto da nave), que foram pintados por João Nepomuceno Correia e Castro.

Em 1796, Aleijadinho começou seu trabalho na ladeira em frente a igreja, construindo seis capelas, três de cada lado, com cenas da paixão de Cristo com 66 esculturas em tamanho real feitas de cedro. Seu trabalho terminou três anos depois, em 1799. Mestre Ataíde e Francisco Xavier Carneiro se juntaram aos esforços em 1798 fazendo toda a pintura das imagens, elas foram sendo pintadas conforme as capelas iam sendo finalizadas, porém seu término se deu somente em 1875. As esculturas na frente da igreja foram feitas entre 1800 e 1805, também por Aleijadinho. As 12 esculturas em pedra sabão representam os profetas, que estão colocados em diferentes posições e com movimento de mãos que dão a impressão que eles estão comunicando entre si.

A primeira capela representa a Última Ceia, com uma escultura que foge do padrão da tradicional pintura de Leonardo da Vinci, a mesa neste caso é redonda, com os discípulos em torno de Jesus Cristo, que aparenta ter uma expressão serena em seu rosto e os lábios entreabertos anuncia que um deles o trairá, João o conforta enquanto os outros mostram seu espanto.

Agonia no Horto das Oliveiras é a representação que encontramos na segunda capela. Nela podemos observar Jesus no centro, de joelhos conversa e é consolado por um anjo e nas laterais os discípulos dormem, alheios à cena que se desdobra diante deles. A dramaticidade da cena pode ser observada no olhar de Jesus e em seu suor de sangue.

A terceira capela representa a Prisão de Jesus, onde ele aparece no centro da cena, cercado por soldados romanos, que foram representados de forma caricata, com saiotes para serem ridicularizados a exemplo das apresentações medievais em praça pública. Pedro empunha uma espada em defesa de seu mestre e teria cortado a orelha de um de seus captores. Essa orelha pode ser vista na mão de Jesus, que está prestes a coloca-la de volta milagrosamente no rosto mutilado, enquanto recomenda aos seus seguidores que sosseguem, pois seu destino já está traçado.

Seguindo adiante, encontramos a representação da Flagelação e da Coroação de Espinhos, na quarta capela. As duas cenas mostram Jesus em momentos diferentes, na primeira, Ele está de pé com expressão passiva e amarrado a uma coluna e rodeado de soldados que o ridicularizam. Na cena seguinte, Ele aparece sentado, vestindo um manto vermelho com uma coroa de espinhos em sua cabeça.

Na quinta capela, há a representação da Subida ao Calvário, o carregamento da cruz com onze estátuas representando este momento. Ao centro, temos Jesus carregando a cruz com uma expressão de sofrimento em seu rosto. Por trás temos os soldados, dois deles prontos para apedrejá-lo e a frente temos um menino que leva em sua mão um dos cravos que o pregará à cruz. Ainda pode-se observar mulheres chorosas e outro soldado com o estandarte do Império Romano, evocando o poder de Roma.

Na ultima capela, temos a cena da crucificação. Mais onze estátuas representam este momento onde Jesus já se encontra na cruz sendo pregado por soldados. Os dois soldados que também foram crucificados no mesmo momento encontram-se também representados, o mau ladrão com expressão furiosa e o bom ladrão com uma atitude piedosa.

Esta é a maior e mais renomada obra de Aleijadinho. No entanto há de acreditar-se que nem todas foram esculpidas pelo artista, o curto período de confecção delas as irregularidades entre elas, leva a acreditar que ele teve ajuda de seus assistentes. Leva-se a crer que o conjunto foi idealizado por Aleijadinho e que todas as imagens das duas primeiras capelas e todas as imagens de Jesus Cristo tenham sido feitas por ele, além de algumas outras distribuídas entre os espaços.

As esculturas do exterior foram feitas em cinco anos por Aleijadinho. Cada uma das doze estátuas carrega um pergaminho com uma mensagem escrita em latim de reflexão ou de penitência e ainda anunciam a vida do Messias..

O complexo do Santuário é considerado uma das expressões arquitetônicas, artísticas e paisagísticas mais importantes do barroco brasileiro. Não é para tanto que sua inclusão na lista dos Patrimônios Históricos da Unesco se deu tão cedo, em 1985. A Unesco reconheceu que esta é uma obra do gênio humano e representa o ápice da arte cristã na América Latina e é um marco na evolução da arquitetura religiosa do meio do século XVII na América portuguesa, mais especificamente em Minas Gerais, como refletidos nas torres da Basílica, ligeiramente embutidas e inovadoras fachadas de estilo rococó que converge para formar um exemplo importante da arte barroca na América Latina.

Até os dias de hoje, milhares de pessoas visitam e fazem peregrinações até o Santuário. Tem destaque especial a Sala dos Milagres, onde podemos encontrar uma extensa coleção de ex-votos. Apesar do crescimento da região devido à exploração do minério de ferro, o Santuário encontra-se em excelentes condições de conservação e é um ícone da arte sacra religiosa do Brasil.

Aeroportos mais próximos:

  • Aeroporto de Belo Horizonte, Pampulha, 93 km > aproximadamente 1h30
  • Aeroporto de Belo Horizonte, Confins, 127 km > aproximadamente 2h
  • Aeroporto do Rio de Janeiro, Santos Dumont, 359 km > aproximadamente 5h

Rodoviária:

  • Terminal Rodoviário de Congonhas: Av. Mauá, 1484-1628. +55 31 3731-1386
  • Terminal Rodoviário de Belo Horizonte: Av. do Contorno, 340, Santa Efigênia (+55 31 3271-8933)

Rodovias:

  • BR-040, MG-030
  • Distâncias:

    • Belo Horizonte: 83 km
    • Rio de Janeiro: 368 km
    • Brasília: 807 km

    Altitude:

    • 871 m
      Localização: 20° 29’ 59’’ S 43° 51’ 28’’ W

    (1) Bury, John. “Os doze profetas de Congonhas do Campo”. In: Bury, John [Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira (org.)]. Arquitetura e Arte do Brasil Colonial. IPHAN / Monumenta, 2010, pp. 36-59