Ouro Preto (MG)

Ouro Preto (MG)

A cidade de Ouro Preto que está localizada no estado de Minas Gerais foi a primeira cidade brasileira escolhida pela Unesco como Patrimônio da Humanidade em 1980. Quando conhecemos a cidade, fica clara sua inclusão na lista, parece que estamos andando em um museu à céu aberto com toda sua arquitetura barroca. Em todos os cantos encontramos algo belo ou antigo e as vistas dos pontos mais altos da cidade são paisagens que parecem ter saído de uma pintura.

Com mais de 300 anos (sua fundação data de 8 de julho de 1711), Ouro Preto possui uma história muito rica. Durante as expedições dos bandeirantes portugueses em busca de pedras e metais preciosos e escravos indígenas, a cidade foi “descoberta”. Quando encontrada a riqueza da região no final do século XVI, Ouro Preto se tornou uma das principais cidades do ciclo do ouro e milhares de pessoas migraram para lá para trabalhar na mineração. Em 1730, a cidade contava com uma população de 40 mil pessoas, se tornando a cidade mais populosa da América Latina (na mesma época, São Paulo contava com apenas 8 mil habitantes e Nova York não possuía 20 mil habitantes). Antes da colônia portuguesa chegar à cidade, Ouro Preto e todo o entorno mineiro eram ocupados por populações indígenas, que acabaram sendo feitas de escravas ou fugiram da região.

Em 1789 ocorreu a Inconfidência Mineira, que foi o maior movimento separatista do Brasil Colônia onde seus membros buscavam independência da Coroa Portuguesa, e ocorreu na região de Vila Rica, hoje Ouro Preto, onde a opressão da metrópole era mais sentida. Insatisfeitos com os impostos cobrados por Portugal e por suas duras regras à Colônia, o movimento tinha como intuito declarar independência de Portugal e estabelecer um regime republicano, porém os planos dos inconfidentes foram frustrados quando três de seus membros delataram o movimento ao governador Visconde de Barbacena. Devido ao fato de seus líderes serem pessoas do alto escalão ou de grande influência, poucos deles foram sentenciados à morte ou ao exílio na África. Joaquim José da Silva Xavier – Tiradentes, que estava a caminho do Rio de Janeiro para obter mais armas, foi sentenciado, enforcado e esquartejado e é lembrado até hoje como símbolo e mártir da revolta.

No século XVII, a Coroa Portuguesa já havia recebido mais de 800 toneladas de ouro, porém a produção da cidade era ainda maior se considerarmos o ouro que circulava de maneira ilegal e o que ficou na cidade e nas decorações das igrejas. Em 1823 foi declarada oficialmente como capital da província da Minas Gerais, em 1839 foi fundada na cidade a primeira escola de farmácia da América do Sul e em 1876, a pedido de Dom Pedro II do Brasil, foi fundada a Escola de Minas de Ouro Preto, a primeira escola de estudos metalúrgicos, geológicos e mineralógicos do Brasil e, hoje, é uma das principais instituições de engenharia do país.

Em 1897 houve a mudança da capital para Belo Horizonte, gerando um movimento de migração, diminuindo a população de Ouro Preto em 45% e isso acabou reduzindo o crescimento da cidade por várias décadas, porém este decréscimo populacional contribuiu para a preservação do Centro Histórico.

Com uma história tão rica, não é de se admirar que o Centro Histórico de Ouro Preto foi o primeiro local brasileiro escolhido pela Unesco para entrar na lista dos Patrimônios da Humanidade. A cidade se encaixou em dois critérios de qualificação: ela representa um tesouro do gênio humano pelas obras arquitetônicas e artísticas que existem pela cidade. Receberam destaques pela instituição os monumentos religiosos e prédios administrativos, especialmente o Palácio dos Governadores, hoje a Escola de Minas e a antiga Casa de Câmara e Cadeira, que é o lar do Museu Inconfidência. As esculturas de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, em igrejas barrocas e as pinturas do teto de Manuel da Costa Ataíde que são expressões iniciais de uma forma artística considerada genuinamente nacional. Como segundo critério, Ouro Preto foi considerada um testemunho excepcional de uma tradição única da civilização local. A Unesco levou em conta que “O patrimônio construído na Cidade Histórica de Ouro Preto é um testemunho excepcional dos talentos criativos de uma sociedade construída sobre a mineração pioneira sob o domínio colonial português.” Embora haja muita influência portuguesa na arquitetura, nas pinturas e nas esculturas, elas se divergem do estilo europeu, tornando-se um estilo unicamente brasileiro.

Por falar em arte, sempre que pensamos nas grandes obras que vemos na cidade, lembramos de Aleijadinho. Este grande escultor que deixou sua marca em Ouro Preto tem seu passado pouco registrado, mas sabe-se que ele nasceu escravo em 1730, filho de um mestre de obras e arquiteto português com uma escrava africana, porém recebeu sua alforria no dia do seu batismo. Acredita-se que seu conhecimento de desenho, arquitetura e escultura foi adquirido de seu pai. Como artista, seu início não foi fácil. Pelo fato de ser mulato, muitas vezes tinha que aceitar trabalho como diarista ao invés de mestre. Porém, conforme sua fama foi crescendo e seu trabalho ficando cada vez mais reconhecido, era procurado para trabalhos mais importantes e com maior visibilidade. Seus maiores trabalhos são a fachada da Igreja Nossa Senhora de Fátima e os púlpitos da Igreja São Francisco de Assis, ambos em Ouro Preto. Porém, sua grande obra de arte é a Vila Sacra e os Profetas, feitos para o Santuário Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, que também é um Patrimônio da Humanidade.

Sem dúvida, a melhor forma de conhecer Ouro Preto é a pé. Ao passear pelas ruas de paralelepípedo temos uma visão privilegiada da rica arquitetura barroca da cidade. Uma boa forma de dar início ao passeio, é começar pelo Museu da Inconfidência. Sua construção começou em 1785 e sua função inicial era abrigar a Casa da Câmara e cadeia. Lá encontramos objetos e manuscritos valiosos do período da Inconfidência, além de obras de Aleijadinho e vários outros artistas locais. Também é possível apreciar indumentárias, móveis e diversos objetos dos séculos XVIII e XIX. Vale a pena destacar que no Museu podemos ver pedaços da forca em que Tiradentes morreu e o Panteão dos Inconfidentes, onde se encontra os restos mortais dos principais nomes do movimento. (Valor do ingresso: entre R$ 4,00 e R$ 10,00. Horário de funcionamento: Terça à Domingo das 10h às 18h.)

Considerada como a obra mais esplêndida do barroco e com mais de 400 kg de ouro em seu interior, a Igreja Nossa Senhora do Pilar, sem dúvida alguma, vale a pena a visita. A igreja foi construída em torno de uma capela em 1696 e foi ampliada em 1712. Nela, encontramos 400 anjos esculpidos e mais 400 kg de prata em sua ornamentação. A igreja ainda abriga o Museu de Arte Sacra de Ouro Preto, onde podemos encontrar algumas das vestimentas usadas nas celebrações do Santíssimo Sacramento, além de imagens e documentos.

Outra igreja de tirar o fôlego é a Igreja São Francisco de Assis onde podemos contemplar a obra de Aleijadinho desde sua fachada. Além da entrada, Aleijadinho também foi responsável pela tribuna do altar-mor, altares laterais e pela capela-mor. As esculturas da portada e dos púlpitos também são obras do artista. Outra obra impressionante que encontramos dentro da igreja, é o teto, que foi pintado pelo Mestre Ataíde, que fez uma representação da assunção de Nossa Senhora. Mestre Ataíde foi um artista mineiro que hoje é considerado um dos maiores nomes e um divisor de águas na história da pintura brasileira. Em suas obras destaca-se o uso de cores vivas e de combinações inusitadas. Em sua arte, podemos perceber que os anjos e santos desenhados por ele apresentam traços mestiços, isso o fez ser considerado um dos percursores de uma arte genuinamente brasileira.

Mas não só de igrejas vive Ouro Preto. Todos os dias em frente a Igreja São Francisco de Assis acontece a Feirinha de Pedra Sabão, ou mais formalmente, a Feira de Artesanato do Largo Coimbra. Essa feira acontece diariamente desde 1995 das 7h às 19h. Historiadores contam que o local onde os feirantes se reúnem era um “entreposto” para trocas e vendas de mercadorias e serviços desde 1824. Hoje, a feira possui mais de 50 barracas com artesanato, joias, camisetas, pedras preciosas e peças decorativas em pedra sabão. Sem dúvida alguma vale a pena dar uma passada por lá e comprar uma lembrancinha da cidade.

E o que é uma visita a Ouro Preto sem conhecer uma mina de ouro de verdade?! Dentro da cidade há uma mina desativada que é aberta a visitação, a Mina Santa Rita. Essa é uma das minas mais antigas de Minas Gerais e data da primeira metade do século XVIII. Durante o passeio em seus 115 m abertos à visitação, aprendemos sobre a vida dura dos escravos que trabalhavam lá e entendemos um pouco das precárias condições de trabalho dentro desses túneis estreitos e úmidos. O horário de funcionamento é de segunda à sábado das 09h às 17h e domingo das 09h às 14h. O preço varia entre R$ 20 e R$ 35 por pessoa.

Um passeio alternativo que encontramos na cidade é o passeio na Maria Fumaça que vai de Ouro Preto à Mariana. O percurso de 18km é feito por uma locomotiva de 1949 com o interior feito todo de madeira. O percurso, apesar de curto (menos de uma hora) é exuberante, com vistas de montanhas e cachoeiras com certeza fará você viajar no tempo. O passeio custa R$ 50,00 (inteira) somente o trecho de ida no vagão convencional, para comprar ida e volta, custa R$ 70,00, no vagão panorâmico, ida custa R$ 76,00 e ida e volta R$ 100,00.

Enfim, Ouro Preto é uma cidade que sem dúvida vale a pena conhecer. Rica em história e monumentos, a cidade nos faz viajar à uma época muito distante da que vivemos hoje e nos faz aprender um pouco sobre o passado do nosso país.

* Barroco é o estilo artístico que floresceu entre o final do século XVI e meados do século XVIII, inicialmente na Itália, difundindo-se em seguida pelos países católicos da Europa e da América, antes de atingir, em uma forma modificada, as áreas protestantes e alguns pontos do Oriente. Distingue-se pelo esplendor exuberante.

Aeroportos mais próximos:

  • Aeroporto de Belo Horizonte, Pampulha, 109 km > aproximadamente 1h40
  • Aeroporto de Belo Horizonte, Confins, 142 km > aproximadamente 2h
  • Aeroporto do Rio de Janeiro, Santos Dumont, 402 km > aproximadamente 6h

Rodoviária:

  • Terminal Rodoviário de Ouro Preto: Rua Padre Rolim, 16. Telefone +55 31 3559-3252
  • Terminal Rodoviário de Belo Horizonte: Av. do Contorno, 340, Santa Efigênia (+55 31 3271-8933)

Rodovias:

  • BR-356, BR-367, MG-129
  • Distâncias:

    • Belo Horizonte: 98 km
    • Rio de Janeiro: 399 km
    • Brasília: 824 km

    Altitude:

    • 1179 m
      Localização: 20° 23’ 08’’ S 43° 30’ 29’’ O