Conjunto da Pampulha (MG)

Patrimônio da Humanidade – Conjunto Arquitetônico da Pampula (MG)

O Conjunto Arquitetônico da Pampulha, é um dos Patrimônios da Humanidade mais recente a ter entrado na lista da Unesco. Apesar de sua inclusão ter sido feita apenas em 2016, o conjunto está presente na vida dos mineiros desde 1943. Desenvolvido por Niemeyer e com a cooperação de vários artistas, hoje, o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, é o cartão postal de Belo Horizonte, com lindas vistas, belos jardins e prédios icônicos a serem desvendados.

Em volta desta lagoa artificial, Niemeyer desenvolveu o projeto para uma igreja, um cassino (atual Museu de Arte da Pampulha), uma casa de baile (atual Centro de Referência em Urbanismo, Arquitetura e Design de Belo Horizonte) e um iate clube (atualmente Iate Tênis Clube). Além destas obras, a Unesco incluiu os jardins de cada obra, o calçadão que une uma edificação a outra o espelho d’água e a orla no trecho onde estão as construções como partes integrantes do Patrimônio Histórico. Essa obra excepcional teve a participação de outros artistas. Além de Niemeyer, podemos apreciar as pinturas de Cândido Portinari, o painel em bronze de Alfredo Ceschiatti, o paisagismo de Burle Marx e o mosaico em pastilhas de Paulo Werneck.

Esse conjunto de prédios atingiram três, entre dez critérios necessários para serem aceitos como Patrimônio da Humanidade: o conjunto da obra que Niemeyer, Burle Marx e Portinari desenvolveram, manifesta uma nova linguagem mais fluída da arquitetura moderna que se funde com as artes plásticas e com o design sendo o todo, integrado por um contexto paisagístico, de tal forma que representam uma obra prima do gênio humano. A interligação entre as práticas regionais locais e as tendências universais, além de viabilizar a ligação dinâmica entre a arquitetura, o design paisagista e as artes plásticas, a Pampulha foi o princípio de uma nova direção na arquitetura moderna, que futuramente foi usada em países latino-americanos para afirmar suas novas identidades, possibilitando, portanto, o intercâmbio de valores humanos dentro de uma área cultural do mundo. Por fim, o conjunto da Pampulha e seus conceitos arquitetônicos e paisagísticos inovadores, reflete um estágio da arquitetura sul americana, que está ligada às mudanças socioeconômicas tanto da região quanto do mundo, tudo isso contribuiu para o design deste novo bairro em Belo Horizonte que reflete a autonomia criativa e cultural através de edifícios arquitetônicos inovadores e projetados para o uso da população, inseridos em uma paisagem “natural” projetada, com espaços públicos para lazer e exercícios físicos.

A Igreja de São Francisco de Assis, ou como é mais conhecida, Igrejinha da Pampulha, foi o último dos prédios a ser inaugurado. Sem dúvida alguma, é o cartão postal da cidade, com sua forma inusitada, foi uma revolução no mundo da arquitetura, onde seus arcos formam cobertura e paredes ao mesmo tempo. O uso característico de concreto armado por Niemeyer começou com o design dessa maravilhosa igreja. No seu interior, existem catorze painéis de Cândido Portinari, onde ele representa a Via Sacra. Os painéis externos também são de Portinari com imagens de São Francisco de Assis, santo que dá o nome à igreja. No exterior, também existem lindos painéis de Paulo Werneck e os jardins em seu entorno são de Burle Marx.

Devido ao atraso em suas obras, a igreja foi inaugurada somente 2 anos após o Conjunto da Pampulha ter tido sua inauguração oficial. A Cúria Metropolitana sempre se mostrou-se desgostosa em relação à ousada arquitetura e o arcebispo de Belo Horizonte à época, dom Antônio Santos Cabral, recusou-se a conceder a benção e alegou que a obra era “inteiramente particular, na qual o clero não teve a mínima participação”. O principal motivo do descontentamento de dom Cabral com a igreja da Pampulha eram as obras de Portinari. Sem o recebimento da benção, a igreja ficou sem função por muitos anos e o arcebispo chegou a sugerir que o local se transformasse em um museu de arte, porém vetada pelo prefeito Couto e Silva. Em 1947, a igreja foi tombada pelo IPHAN, porém ainda cercada de muitas críticas pelo seu abandono. Diante deste cenário, a Cúria Metropolitana emitiu uma nota onde dizia: “Pelas suas características aberrantes, a referida Capela enquanto as mantiver não poderá receber aprovação para o culto religioso, não havendo mais o propósito de consultar ou ouvir pareceres de pessoas por mais entendidas e credenciadas que sejam”. Porem, em 1956, a luta para a consagração da igrejinha ganharam novos impulsos. Nessa época, Juscelino Kubitscheck já era presidente da república e o papa João XXIII demonstrava interesse em expor no vaticano a via sacra de Portinari. Além dessa nova conjuntura, o então prefeito, Celso Melo, através de um Projeto de Lei na Câmara Municipal, realizou a doação da Igreja São Francisco de Assim e de suas áreas adjacentes para a Cúria Metropolitana. Quatorze anos depois de sua inauguração, em 11 de abril de 1959, foi realizada a primeira missa na igreja da Pampulha. Hoje, a Igreja encontra-se fechada para reformas.

Seguindo os entornos da lagoa aproveite para passar pelo Mineirão e Mineirinho que, apesar de não fazerem parte do Patrimônio Histórico, compõe a vista do local.

Logo em seguida está o Iate Tênis Clube, antes chamado de Yacht Golf Club, primeiro prédio a ser inaugurado, em 1942. Esse prédio se diferencia dos demais por suas linhas retas, distingue-se dos outros que possuem linhas mais curvas, seu formato se destaca e remete à um veleiro passeando sobre as águas da Pampulha. Este lugar foi imaginado por Niemeyer para ser um espaço de lazer e de convívio familiar e no lugar das paredes, os painéis de vidro trazem a modernista ideia de integrar o externo com o interno. Em seu projeto original foi construída uma garagem para barcos no andar térreo que era abastecida pelas águas da lagoa e ainda contava com espaços sociais e esportivos, com vestiários, salão de beleza, lavanderia, hangar, restaurante, três quadras de tênis e outras quadras para diversos esportes, além de um playground e uma piscina. Também foi construído dois salões de festas, o salão Espelho d’água e o salão Portinari. No primeiro salão encontramos obras da renomada artista plástica mineira Esthergilda Menicucci e no segundo, obras do artista que dá o nome ao salão, onde encontramos sua famosa obra “O suicídio de consciência” e o painel “O Esporte” de Burle Marx.

Nos anos 60, o clube, que pertencia à prefeitura de Belo Horizonte, foi vendido para sanar problemas financeiros da cidade. Nessa época, houve a mudança do nome para Iate Tênis Clube, nome que leva até hoje. Sob essa nova administração, houve diversas obras no local, duramente criticadas por Niemeyer e por membros de órgãos de preservação do patrimônio histórico. A Unesco, em 2016, requisitou a demolição dessas novas edificações e que o projeto fosse mantido igual ao original e que fossem realizadas reformas estruturais no local e nos jardins. A prefeitura de Belo Horizonte, atualmente, está em negociação com os atuais donos do Iate Clube para que as exigências sejam atendidas.

A Casa do Baile está bem próxima ao Iate Club que fica em uma ilhota conectada por uma ponte de 11 metros de comprimento que, apesar de ter sido inaugurada na mesma época das outras edificações, possuí uma história muito mais longa. Foi projetada para ser um restaurante de culinária mineira e um salão de dança. Além de sua forma circular, outro elemento que chama atenção são as marquises que, antigamente, se colocavam mesas e cadeiras sob elas para que seus frequentadores pudessem admirar a lagoa, os jardins e o pequeno lago interno.

Durante anos a Casa do Baile foi um lugar muito movimentado, porém foi perdendo seu encanto até o seu fechamento em 1948. Dois anos depois, em 1950, foi reaberto como a sede do Club de Regatas da Pampulha, durando apenas um ano. Desde então, até 1954, o local era alugado para eventos particulares. Durante um longo período, este espaço ficou sem uma função específica. Entre várias ideias e tentativas de arrendamento e venda, a Casa do Baile teve um locador em 1971, sendo reativado como restaurante e salão dançante, porém, com o término do contrato, o local ficou vazio novamente. Com sua estrutura bastante danificada, a reforma chegou somente quase uma década depois, em 1983. Reaberto em 1986, sua função já não remetia mais às danças que aconteciam ali, contudo, a renovada Casa do Baile servia como anexo do Museu de Arte da Pampulha. De 1990 a 1996, o espaço foi alugado para uma empresa particular e voltou a ser restaurante. Em 1997 a Casa do Baile foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e voltou a ser o anexo do museu.

Em 1998, o espaço se tornou o Espaço Cultural Casa do Baile, o que acarretou em seu status de patrimônio histórico e cultural. Para se tornar oficialmente um espaço cultural, o local teve que passar por diversas reformas, porém dessa vez todas as reformas foram acompanhadas pelo seu projetista original, Niemeyer. Adaptações foram realizadas para que o espaço pudesse receber exposições, o salão principal foi reduzido e foi criado um auditório com 53 lugares. Já em 2002, o local se tornou o Centro de Referência em Urbanismo e Arquitetura e Design. Lá encontramos exposições referentes ao tema e imagens e dados da região da Pampulha. Em visita ao local em 2003, Niemeyer deixou alguns de seus desenhos e reflexões em um painel no auditório.

Dalí passando pelo mirante, chegasse ao antigo Cassino, hoje Museu de Artes da Pampulha. Enquanto cassino, não faltava glamour ao local, com as pessoas mais abastadas da capital mineira e de todos os lugares do mundo. O Cassino possuía além do salão de jogos, uma pista de dança, um restaurante e um bar. Sobre seu projeto, Niemeyer disse: “Fiz este projeto em uma noite, não tive alternativa. Mas quando funcionava como cassino, cumpria bem suas finalidades, com seus mármores, suas colunas de aço inoxidável, e a burguesia a se exibir, elegante, pelas suas rampas”. À época, a imprensa chamava o local de “Palácio de Cristal” pois possuía vidros espelhados que destacavam a paisagem. Os bailes promovidos lá eram repletos de pessoas influentes, incluindo o próprio JK que era visto frequentemente dançando, onde acabou ganhando o apelido de “pé de valsa”. Em seu exterior pode-se admirar as esculturas “Abraço” de Alfredo Ceschiatti, “Nu” de August Zamoyski, “Sem Nome” de José Pedrosa e “A Porta” de Almicar de Castro. Porem seus anos de glória duraram pouco. Em 30 de abril de 1946 com a proibição dos jogos de azar em todo o país, o cassino foi obrigado a fechar suas portas afetando à vida social da Pampulha, em especial à Casa do Baile. Durante onze anos após seu fechamento, o local serviu apenas para a realização de apresentações culturais e recepções. Em 1957, com o estímulo do empresário Assis Chateaubriand, foi criado em suas dependências o Museu de Arte da Pampulha – MAP. Em 1969, o MAP passou a receber as obras premiadas do Salão de Arte Contemporânea de Belo Horizonte. Em 2010, cerca de 40% do acervo do museu era composto por peças que vieram dos salões nacionais. Tombado nas esferas municipal, estadual e federal, o MAP terá seu piso restaurado para os parâmetros da década de 40, mais uma exigência da Unesco para que o Conjunto da Pampulha permaneça na lista.

Ao visitar Belo Horizonte, aproveite a oportunidade de conhecer o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, e lembre-se de visualizar o local como foi concebido, como um todo, como um conjunto que envolve arquitetura, arte e paisagem e não apenas nos edifícios independentes.

Aeroportos mais próximos:

  • Aeroporto de Belo Horizonte, Pampulha, 9 km do centro da cidade> Praça Begatelle, 204 (+55 31 3490-2000)
  • Aeroporto de Belo Horizonte, Confins, 40 km do centro da cidade > Rodovia LMG-800, km 7,9 (+55 31 3689-2700)

Rodoviária:

  • Terminal Rodoviário de Belo Horizonte: Av. do Contorno, 340, Santa Efigênia (+55 31 3271-8933)

Rodovias:

  • BR-356, MG-129
  • Distâncias:

    • Rio de Janeiro: 442 km
    • Vitória: 547 km
    • São Paulo: 586 km
    • Brasília: 735 km

    Altitude:

    • 852 m
      Localização: 19° 49’ 01’’ S 43° 57’ 21’’ O