Brasília (DF)
Brasília (DF)
Brasília, localizada no Distrito Federal, entrou para a lista da UNESCO como um Patrimônio Cultural da Humanidade em 1987 sendo a maior área tombada como Patrimônio Histórico (112.25 km²). É o único conjunto urbano do século XX a ser reconhecido como Patrimônio pela Unesco. Para se entrar na lista, tem que atingir pelo menos um dos critérios designados pela instituição, e Brasília conseguiu atingir dois: critério (i): ser uma obra prima do gênio criativo humano; e critério (iv): é um excelente exemplo de conjunto arquitetônico que ilustra estágios significativos da história humana.
A capital brasileira entrou nesta lista tão importante não apenas pelos belos monumentos do arquiteto Oscar Niemeyer, mas sim, e principalmente, pelo seu design urbano tão singular do arquiteto Lucio Costa. Todos os detalhes pensados pelo urbanista são tão únicos e geniais que o conjunto da sua obra se sobressaiu dentre tantos outros lugares no mundo inteiro. Desde o Plano Piloto, o sistema rodoviário, a divisão da cidade em setores com finalidades específicas, até mesmo as quatro escalas distinguidas por Lúcio Costa (monumental, residencial, gregária e bucólica) foram relevantes para a escolha da cidade como um Patrimônio Histórico.
Mesmo sendo uma cidade relativamente nova (59 anos), Brasília já nasceu monumental. Com uma construção épica, que reuniu as forças produtivas de toda a nação, desde técnicos a artistas brasileiros, o resultado desse excepcional esforço nacional foi uma cidade com uma arquitetura moderna e avançada e um planejamento regional magnífico.
Podemos entender esse status da cidade como Patrimônio Histórico ao perceber que não são os prédios da cidade que devem ser preservados como patrimônio histórico, se fosse este o caso, não seria permitido novas construções, porém, como foi o projeto urbanístico da cidade em suas escalas, assim como Lúcio Costa descreve em seu projeto, é permitida a construção de novos prédios. Apenas o Eixo Monumental, a rodoviária e os prédios de Niemeyer, que foram tombados recentemente, são protegidos de forma tradicional, sendo que no espaço do Eixo Monumental ainda é permitida a construção de novos prédios, desde que se mantenha o projeto urbanístico original.
A capital brasileira foi criada a partir do nada, em 1960, para ser o centro administrativo e político do país. A vontade de interiorizar a capital brasileira já era conhecida por muitas décadas, porém, foi a coragem do então presidente Juscelino Kubitschek, que tirou do plano das ideias e trouxe para o plano da realidade a construção da nova Capital do Brasil.
A história da nova capital começa muito antes da década de 1960, nos anos de 1761 já podemos ter vislumbres das ideias para a capital brasileira pelo Marquês de Pombal que diz: “… pensa em erguer no sertão uma cidade, não apenas Capital da Colônia, mas do Reino, a meio caminho da África e das Índias, na rota das linhas vitais do seu comércio” – Texto n⁰. I gravado nas paredes do Museu da Cidade.
Em novembro de 1889 quando o Marechal Deodoro da Fonseca proclamou a República do Brasil, os governantes, logo em seus primeiros atos no exercício dos seus poderes, deixam claro que o Rio de Janeiro seria apenas a sede “provisória” do Poder Federal. Dois anos depois, em fevereiro, é promulgada a 1ª Constituição da República, onde apresenta um artigo que decreta que em uma área de 14.400 quilômetros quadrados do planalto central será demarcada a nova Capital Federal.
No ano seguinte, o presidente Floriano Peixoto estabelece a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, que tinha como líder o astrônomo Luiz Curls. Seu objetivo era demarcar a área do novo Distrito Federal e estudar a topografia, o clima, a hidrografia, a geologia, a flora, a fauna e os recursos minerais e materiais do território. Depois de sete meses de exploração e mais de 7.000 km percorridos, a Missão Curls concebe um relatório que viabilizou a elaboração do primeiro mapa do Brasil que indicava o futuro Distrito Federal na região do Planalto Central do Estado de Goiás, que foi denominada “Quadrilátero Cruls”.
Em 1956 Juscelino Kubitschek de Oliveira – JK assume seu mandato de cinco anos como presidente da República. Dentre as metas de governo, existia a Meta Síntese que se referia à construção da nova capital brasileira. No segundo semestre do primeiro ano do seu mandato, o presidente JK criou uma lei que delimitou uma área de 5.783km² que seria o novo território do Distrito Federal e criou a Companhia Urbanizadora da Nova Capital – NOVACAP com o objetivo de coordenar as obras no Planalto Central.
A primeira construção da nova Capital foi o Catetinho que, provisoriamente, funcionaria como residência do Presidente em suas visitas à cidade e sede do governo enquanto os prédios oficiais não ficavam prontos. O curioso nome faz referência ao Palácio do Catete, que na época era a sede do Governo Federal no Rio de Janeiro. Quem assinou o projeto desta obra foi Oscar Niemeyer e nela podemos ver seu exemplo clássico de arquitetura dos anos 50 onde o prédio é suspenso sobre pilotis. A obra foi concluída em apenas 10 dias tendo em vista o caráter urgente da necessidade de haver um local onde o presidente pudesse se hospedar e conduzir todas as políticas necessárias no local.
Dentre os 26 projetos de urbanismo inscritos no Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil, o selecionado pela Comissão Julgadora internacional foi do arquiteto Lúcio Costa. O desejo dele para Brasília é que ela fosse uma “Cidade planejada para o trabalho ordenado e eficiente, mas ao mesmo tempo cidade viva e aprazível, própria ao devaneio e à especulação intelectual, capaz de tornar-se, com o tempo, além de centro de governo e administração, num foco de cultura dos mais lúcidos e sensíveis do país”. Seu projeto inicial foi feito em formato de uma cruz, mas a necessidade de adequar à topografia local, um de seus eixos foi arqueado, dando a noção de um pássaro. Dessa forma, possibilitou-se a separação urbana por atividades e uma malha rodoviária onde não existem cruzamentos.
Brasília tem dois grandes eixos de circulação, o Leste-Oeste, chamado de Eixo Monumental, e o norte-sul, chamado Eixo Rodoviário Residencial, que é cortado transversalmente pelas vias locais. O Plano Piloto tem como característica principal a paisagem horizontalizada, onde podemos encontrar grandes espaços livres e de muita amplitude visual. Mais tecnicamente, podemos separar a cidade em 4 Escalas: na Escala Residencial, que foi construída ao longo do Eixo Rodoviário, podemos encontrar as tradicionais superquadras que são cercadas de áreas verdes, os prédios são baixos e suspensos sobre pilotis e uma vizinhança que estimula a convivência com comércios locais, praças e escolas; a Escala Monumental confere à cidade seu status de capital, onde as funções administrativas do país são exercidas, se encontra no Eixo que leva o mesmo nome, onde se encontram os prédios da administração do país e é lá que podemos encontrar as obras mais conhecidas de Niemeyer; a terceira é a Escala Gregária, que foi construída em torno da plataforma rodoviária, onde se encontra o grande comércio, as agências bancárias, consultórios, escritórios, hotéis e centros de diversão; por fim, a Escala Bucólica, que permeia e integra as outras três escalas, com grandes extensões de grama, canteiros ornamentais, parques, áreas arborizadas e de lazer, que proporcionam à capital seu aspecto único de cidade-parque.
Outra particularidade da capital é a quantidade de árvores frutíferas que existem por toda a cidade. Assim como o restante da cidade, o plantio de árvores (não apenas as frutíferas) foi feita através de um planejamento. A ideia de Lúcio Costa era que os prédios da cidade parecessem emergir do meio de uma floresta. Inicialmente, o intuito era plantar um tipo diferente de árvore em cada quadra, porém, uma praga acabou matando milhares de árvores na década de 70, o que levou à necessidade de rearborizar a região e foi dada a preferência pelas árvores frutíferas. Além de trazer sombra, de refrescar o clima e de ajudar na drenagem das chuvas, as árvores também alimentam a população brasiliense.
Hoje, são contadas mais de 5 milhões de árvores na cidade inteira e, dentre elas, dois milhões são frutíferas. Ao passear pela cidade, encontramos uma variedade enorme de frutas a apenas uma mão de distância. Os moradores podem colher os frutos das árvores de espaços públicos para consumo próprio, e o melhor de tudo é que todas as frutas são livres de agrotóxicos.
Há bastantes frutos típicos da região, como a cagaita e o pequi e há também frutos que não tão comuns no Brasil, como a tâmara, que é um fruto característico do Oriente Médio. Além dessas, também podemos encontrar mamão, amora, goiaba, pitanga, jambo, limão, caju e jabuticaba. A Novacap planta, em média, 100 mil mudas todo ano em todo o Distrito Federal e cerca de 15% delas são de árvores frutíferas.
Além das árvores frutíferas, os ipês têm um destaque especial da paisagem brasiliense. A Novacap, em sua estufa, se dedica à germinação e ao crescimento dos ipês, eles são plantados quando atingem a altura entre um e dois metros e nos últimos meses do ano, onde a incidência de chuvas é maior e auxilia a manutenção da muda. As flores só começam a nascer depois de oito anos de vida da planta, e normalmente sua floração dura entre 10 e 15 dias e são deslumbrantes.
Encontramos 5 tipos de ipês em Brasília, cada um com uma floração em épocas diferentes do ano: o Ipê Roxo, atinge até 18m de altura, tem sua floração entre os meses de junho e setembro; o Ipê Rosa, pode atingir até 35m de altura, floresce entre agosto e setembro; o Ipê Amarelo, é o menor entre os encontrados em Brasília, tem uma altura média de 3m a 8m e floresce entre junho e setembro; o Ipê Branco, tem entre 7 e 16 metros de altura e floresce nos meses de agosto e setembro; e por fim, o Ipê Verde que apesar de passar mais despercebido que os outros, é o mais raro e pode atingir até 18m de altura e floresce entre os meses de dezembro e março.
Quando se fala que Brasília é uma cidade sem cruzamentos, pode causar estranhamento à primeira vista, porém, a cidade foi planejada desta forma para evitar congestionamentos e as tesourinhas foram criadas para escoar o trânsito. Elas são chamadas assim porque quando, vistas de cima, se remetem muito a este instrumento. Mas, traduzindo o sentido delas, são apenas uma pista de acesso às superquadras que cortam o Eixo-Rodoviário e existem oito delas em cada Asa. Para conseguir usá-la corretamente, tem-se que deixar a lógica um pouco de lado, pois quando se quer ir para direita, na verdade você tem que seguir para a esquerda e tem que fazer a volta três vezes para conseguir pegar o sentido contrário em que você estava. Mas, com um pouco de prática, logo se aprende a utilizá-las e a entendê-las melhor.
Depois de entender o projeto diferenciado de Lúcio Costa que foi eternizado como um Patrimônio da Humanidade, podemos agora compreender um pouco como esse projeto se traduz na prática.
Somente quem já visitou a cidade alcança a beleza deste projeto. À primeira vista, parece um pouco confuso, você pode ir um dia almoçar na quadra 116 da Asa Sul e no dia seguinte ir a uma farmácia na 316 Norte e achar que está na mesma Quadra do dia anterior, porém elas estão a quase 15 km de distância uma da outra.
Na verdade, Brasília foi idealizada de uma forma muito prática. Como ela foi uma cidade projetada, teve-se a oportunidade de se pensar na melhor forma de distribuir o trânsito e de aglomerar espaços similares. Como vimos, o projeto foi feito inicialmente como uma cruz, esses dois eixos principais que se cruzam são chamados de Eixo Monumental e Eixo Rodoviário e tudo funciona como um grande plano cartesiano.
Em seu projeto, Lúcio Costa explicou como foi projetada essa questão conforme disse: “Quanto à numeração urbana, a referência deve ser o Eixo Monumental, distribuindo-se a cidade em metades Norte e Sul, as quadras seriam assinaladas por números, os blocos residenciais por letras, e, finalmente, o número de apartamentos na forma usual, assim, por exemplo: N-Q3 – L – ap. 201. A designação dos blocos em relação à entrada da quadra deve seguir da esquerda para a direita, de acordo com a norma”.
O Eixo Rodoviário tem cerca de 14 km, sendo 5 km na Asa Sul e mais 7 km na Asa Norte, é a avenida que passa pelas asas do avião. Paralelo a ele, temos o eixinho leste e o oeste (Eixo L e Eixo W). O outro eixo principal é o Eixo Monumental, que é o eixo administrativo da capital, onde encontramos a Esplanada dos Ministérios, a Praça dos Três Poderes e os principais órgãos públicos. Finalmente, no cruzamento dos dois eixos, temos a rodoviária do Plano Piloto, ponto central da cidade onde se consegue pegar ônibus para todos os cantos da cidade e para as cidades satélites.
Para simplificar, os nomes dos setores são baseados nos pontos cardeais, sendo o “ponto zero” a interseção dos Eixo Rodoviário com o Monumental. A nomenclatura foi encurtada com siglas, de forma que o Comércio Local Norte, Sul e Sudoeste acabam sendo chamados de CLN, CLS e CLSW; o Setor Comercial Norte e Sul é SCN e SCS, o Setor de Clubes Esportivos Norte e Sul é SCEN e SCES. A princípio, isso pode parecer um pouco complicado, porém na prática, funciona bem.
Aeroporto mais próximo:
- Aeroporto Internacional de Brasília PRESIDENTE JUSCELINO KUBITSCHECK, Área especial s/n., Lago Sul, Brasília >
Rodoviária:
- Rodoviária Interestadual de Brasília, SMAS, Trecho 4, Conjunto 5/6 , Asa Sul, Brasília
Altitude:
- 1171 m
Localização: 5° 47′ 38″ S 47° 52′ 58″ O